sexta-feira, 4 de junho de 2010

ZÉZINHA


Apareceu por esta "ajudengada rua da Cardia", como lhe chamou Aquilino, a apontar os olhitos espantados a coisas e gentes, a fazer-se amiga deste e daquele. O trânsito é quase sempre parco e ela, rápida e subtil, lá se vai safando.
Cada vez mais aventureira, foi cheiriscando portas e intimidades. Foi entrando. A ousadia deve ter-lhe sido esfogueteada pela barriguita pesada: às prenhas não há comida que as tape.
Os vizinhos, boa gente, foram-na apajeando, dão-lhe comida, carícias e um nome: Maria José. Mas toda a gente a trata por Zézinha. Já houve quem a quisesse adoptar para sempre, mas ela não esteve pelos ajustes. Felino é felino, regras só as suas.
Carregando a sua descendência, lá vai tomando conta da rua, enrodilhando os corações.
Até que um dia.

1 comentário:

  1. Á Zézinha, pelos vistos, ninguém conseguiu colocar cancelas e muito menos porta a arrematar o cerco.
    Amar e ser amado faz falta, sobreviver é preciso... mas a independência e liberdade são valores imprescindíveis. Sê feliz Zézinha, à tua maneira!
    Fernanda B

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