quinta-feira, 27 de maio de 2010

SOARES E A INVENÇÃO DA CONSCIÊCIA


Ao ritmo a que anda a expender as suas invenções, não tarda muito que o dr. Mário Soares, ávido como Gargantua, chegue à conclusão que foi ele, dr. Soares, que estabeleceu a Lei de Equivalência Massa-Energia...
O que, se formos a ver nem tem nada de estranho: é que o Einstein era mesmo socialista e até foi perseguido pelo FBI. Isto, no breviário do dr. Soares pode muito bem significar que o acomunistado Albert Einstein era incapaz de qualquer invenção.

O que fica dito é, já sevê, um raciocínio distorcido, uma série de falácias, uma dessas monstruosidades a que os lógicos chamam non-sequitur. Mas ninguém duvida que o homem que nos meteu no merdeiro da UE seja capaz destes gigantismos.

Veja-se. Soares dá como razão para não apoiar (não sei se também para boicotar) a candidatura de M. Alegre, "a minha consciência". A "minha", sua, dele, do dr. Mário, consciência.

Que Mário Soares é um homem vingativo, sabe-se, é da história contemporânea deste país. Mas que, além disso tenha consciência, é coisa de que se calhar pouca gente suspeitava.

A continuar assim, um destes dias o homem é capaz de vir a público confessar que também sente remorsos por ter metido o socialismo (e muito mais coisas) na gaveta.

terça-feira, 25 de maio de 2010

MÍSTICAS


Parece-me normal a paixão pelo futebol, por um clube. Lembro-me do meu Pai, quase sempre calmo, quase sempre imperturbável, dar brados de júbilo ou de desconsolo durante os desafios da Académica, de o ver perder a cabeça e despedir umas quantas e inconvenientes chufas contra o pobre árbitro que felizmente não o ouvia. E de se recompor em seguida, arrependido. Não percebo que o seu humano possa viver em absoluto sem paixão por isto ou por aquilo. E compreendo até que a paixão leve quase sempre o ser humano a tornar-se parcial. Que diabo, uma mãe e um pai preferem sempre os seus filhos, acham-nos sempre melhores que os filhos dos outros, ao menos neste ou naquele aspecto. Mas, e salvo raras excepções, sempre chega o momento de lucidez e de crítica que não significam necessariamente o fim do amor, da paixão.

Outra coisa são os comportamentos militantemente idiotas, o cretinismo místico de indivíduos que parece terem vindo ao mundo para servirem de capachos voluntários à vaidade alheia. Há dois ou três dias um impreciso número destes seres pôs-se a correr à desfilada não sei se só se pelo país, se também pela estranja. Perguntados, disseram que tinham corrido por junto o equivalente a não sei quantas maratonas a não sei quantos campos de futebol colados uns aos outros. Enfim, distâncias homéricas.

Qual a finalidade desta correria desatada? Segundo os pícaros, a finalidade da correria era incentivar a mística em torno da Selecção Nacional. Não se via, desde que uns maduros resolveram que o país devia ser todo enfeitado de bandeiras nacionais, manobra tão bizarra.

Na Idade Média este recurso a "forças obscuras" seria considerado bruxaria.

Felizmente a Idade Média vai longe. Nós é que parece termos ficado para trás.

sábado, 22 de maio de 2010

A ALMA DO CORPO


"Nem todos os dias se combate, mas todos os dias se come", era, talvez seja ainda, o lema da única das aceitáveis "armas" militares, a Intendência. "Os Padeiros", como lhes chamava com alguma importuna altivez o resto da tropa.

Assim se fará nesta trégua de fim de semana e neste espaço. Pensar no corpinho que é o que, para crentes ou não crentes, reboca a alma.

Deste livro do século XVII, "composto por Domingo Hernandez de Maceras" e dedicado A Don Pedro Gonçalez de Azeuedo Obifpo de Plafencia, del Confejo de fu Magesftad, & c., se extrai a receita que segue:


Cap. xxxvij. Como se há-de fazer um caçoilo de coelhos à Portuguesa.

Depois de meio assados os coelhos, deve cortar-se em peças, duas do lombo e mais as pernas cada uma de per si e dois outros pedaços o corpo e a cabeça mais uma. E logo se deitarão numa panela ou caçoilo, e depois se deve frigir uma pouca de cebola picada muito fina. E para cada coelho é mister dois maravedis de especiarias e quatro de azeite. Deita-se-lhe toda esta mistura, juntamente com sal e vinagre e água, pondo-se a cozer. E não cozerá mais de meia hora, porque se desfaz muito. Chama-se este prato "à Portuguesa", e é o melhor de todos os coelhos. Também se podem servir assados inteiros com azeite e vinagre e pimenta: neste caso sirvam-se lardeados.


Aqui fica, com os desejos de que a boa sorte a/o acompanhe e mais os "maravedis" não só para as especiarias, mas igualmente para o coelho de aviário a adquirir na grande superfície mais próxima de si.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

CONFUSÕES

A gente vai pelas ruas, fala com este e com aquele e se pergunta que tal vai a situação do país, os mimos mais suaves que ouve chamar aos senhores dessa coisa dos governos é "filhos desta" e "filhos daquela". Hoje um exaltado disse-me que o que isto precisava era de uma bomba e não cheguei a saber se falava de uma bomba de água ou de gasolina. A propósito, um outro falou em "regar o gajo com gasolina". Não sei a que gajo se referia, mas achei excessivo, se tivermos em conta o preço a que estão os combustíveis.

Enfim, parece que as pessoas estão todas descontentes e eu, francamente, não percebo porquê.

Há trinta e tal anos que estamos a ser governados por génios, pessoas de uma honestidade insuperável, de uma honorabilidade acima de qualquer catecismo, autênticos servidores do povo, incapazes de uma mentira, gente, como se dizia antigamente, de missa, confissão e comunhão diárias.

O que estes contestatários mereciam era que começássemos a ser governados por ladrões, pandilhas de vigaristas, aldrabões, tipos sem quaisquer princípios ou escrúpulos, uma maltosa que só pensa em meter a mão no bolso dos outros, tipos ainda mais incapazes do que o Teixeira dos Santos, pessoas que... que...

Alto aí. Alto e pára o baile. Parece-me que troquei tudo, estou baralhado. Ou é do calor ou de dançar o tango a solo.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

O RITMO DO SANGUE


Estes dois, são: o Pequenito, meu rafeiro e amigo, e o Doshi, cachorrinho de Fila de São Miguel e também meu recente amigo. São ambos, vê-se pelos nomes, do sexo masculino. Estão a brincar. Tocam-se, mordem-se. São as "amorosas crueldades", disse um poeta. Mais simples: vivem a vida que lhes tocou ao ritmo do sangue, do desejo, das fomes básicas, da saciedade quando calha, e dos afectos imensos.

Estão para lá, muito para lá, das razões do Vaticano, das pseudo-razões do Professor Cavaco ou das sem razões da pernóstica, da supinamente ridícula Madame Isilda Pegado, chefa e castradora-mor da "muy cristiana" Plataforma Cidadã e Casamento. Aprende-se tarde, a vida é curta demais para sermões idiotas. Os três tristes chatos acima referidos se calhar não vão ter tempo para aprender as coisas mais simples.

Os cães brincam até morrer. E os gatos. Fernando Pessoa: "gato que brincas na rua / como se fosse na cama". Bom era que as pessoas conseguissem brincar até ao fim.

Sexos. Para os que mal sabem contar há dois. Para "os limpos de coração", há três, há dezasseis, há tantos quantos o falar e os gestos queiram.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

O SOLILÓQUIO DO ENGENHEIRO


José Alberto de Carvalho, mazombo, molengão, torpe, incapaz de ir ao "dunque", ao cerne das questões. Pantufa justa e deixa falar o patrão. Igual a si mesmo: fora de jogo. Mesmo assim, para quem figurava no cartaz apenas como apoderado da Rainha da Entrevista, nem foi o pior dos amanuenses.

D. Judite de Sousa esteve diferente do habitual, nada perliquitetes, que é o seu comportamento quando está perante alguém da oposição, sobretudo se for gente de esquerda. Não conseguia meter uma. Se calhar nem queria. Empregos destes não caem do céu e os governos têm mais sobrinhos que tachos. Sempre que a dama, esquecida talvez de quem tinha na frente, se atirava, o entrevistado franzia a testa ou atirava duas ou três palavras ríspidas, bem no osso, como quem fala a servos. E ela, caluda!

Sócrates, a quem as gazetas tratam por primeiro ministro e engenheiro, foi rei do falanstério ontem à noite (18 de Maio) na RTP 1.

Deste solilóquio sobrenadou a palavra "responsabilidade" e pontualmente o seu antónimo, "irresponsabilidade". Irresponsável é o PCP que apresenta uma Moção de Censura. Responsável é ele, o seu governo, os seus boys, os sobrinhos e as sobrinhas.

Este Sócrates é o "hollow man" de que falam as crónicas: um buraco revestido de palavras. Este homem medíocre, inculto, sem passado nem presente ideológico, este bonzai do sr. Blair é um aventureiro da política com muitíssima sorte.

Ainda desta vez a sorte esteve com ele. Ninguém foi capaz de lhe fazer a pergunta singela: com tanta responsabilidade demonstrada, onde pára o rol dos indispensáveis, das pandilhas que levaram o país a esta desgraça? Que rostos eram e são os seus? A que partidos pertenciam e pertencem?

Não houve perguntas. O engenheiro esteve feito um macho no ruedo celtibérico. Ah, diestro!

terça-feira, 18 de maio de 2010

CRÓNICA FAMILIAR (1)


Vozes no canto mais escuro da casa, a janela aberta, as cigarras organizando-se em louvor do negrume. O luto foi-se, delido por mais de duas décadas de memórias, sobressaltos e tristezas.

Riem-se os que estão. Contam coisas, o que ela dizia, o que ela fazia, graças... E então o cutelo azul da ausência corta as vozes, algum riso, duas lágrimas clandestinas. É como se daqui nunca tivesse partido quem partiu.

[1946. Gouveia. Salão Azul. Vamos fazer a preto e branco e a três quartos, minha senhora. Quero que ele se lembre sempre de mim como eu sou agora, foi a desculpa da sua humilde vaidade ]

A SACRATÍSSIMA VACA


Entra pelo país como se fosse dele, pisa-o e pasta-o com o desprezo de um bovídeo. Depois, e se a vontade lhe chega, cobre-o das bostas da sua sabedoria.

Declarou agora que os Sindicatos e as Centrais Sindicais devem estar quietinhos enquanto as outras vaquinhas, congéneres da Grande Vaca, põem a flutuar a pátria phinança. E rumina um verso de Camões, estropiando-o: "Mudam-se os tempos, mudam-se as verdades". É vontades e não verdades, Dr. S. O lapsus linguae espreita e o Professor Freud não perdoa.

E ninguém lhe vai à mão, ao Dr. S., à Vaca Sagrada.

- Um Primperan por favor, senhor empregado.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

NÓS, OS PALHAÇOS


Vi políticos republicanos no beijamão ao papa. Mas uma coisa não tira a outra.
Vi políticos republicanos e laicos no beijamão ao Papa. Aqui já não...
Vi políticos republicanos e laicos e socialistas no beijamão ao Papa. Socialistas, disseste?
Vi politicos republicanos e laicos e socialistas e mações no beijamão ao Papa. Aqui fiquei confuso. Socialista não é necessariamente socialista. Mas laico é laico. E mação é laico ou não é mação.
Alguém imagina Afonso Costa, republicano, laico e mação, embora não socialista, num beijamão ao Papa? Não, a não ser numa republiqueta herdeira do Estado Novo.
Isto de políticos trapalhões fazerem de si mesmo e de outros ao mesmo tempo, lembra-me as palavras do clown galego Iván Prado que o regime apartheid de Israel expulsou por ter tentado organizar um festival de palhaços... na Palestina: "Se os políticos continuam a fazer de palhaços, é natural que nós, os palhaços, comecemos a tornar-nos políticos".

Natural e necessário, diria eu.

terça-feira, 11 de maio de 2010

DUVIDAS METÓDICAS


Nada melhor - dado o papal momento que vivemos - do que começar um blogue pondo em ordem as nossas convicções religiosas, não se dê o caso de as termos.

Isso mesmo é o que pratica o Carboncito. Na Plaza de Armas de La Habana vai pesando as suas dúvidas, mas, pelo sim pelo não, olha sempre para a esquerda.