terça-feira, 25 de maio de 2010

MÍSTICAS


Parece-me normal a paixão pelo futebol, por um clube. Lembro-me do meu Pai, quase sempre calmo, quase sempre imperturbável, dar brados de júbilo ou de desconsolo durante os desafios da Académica, de o ver perder a cabeça e despedir umas quantas e inconvenientes chufas contra o pobre árbitro que felizmente não o ouvia. E de se recompor em seguida, arrependido. Não percebo que o seu humano possa viver em absoluto sem paixão por isto ou por aquilo. E compreendo até que a paixão leve quase sempre o ser humano a tornar-se parcial. Que diabo, uma mãe e um pai preferem sempre os seus filhos, acham-nos sempre melhores que os filhos dos outros, ao menos neste ou naquele aspecto. Mas, e salvo raras excepções, sempre chega o momento de lucidez e de crítica que não significam necessariamente o fim do amor, da paixão.

Outra coisa são os comportamentos militantemente idiotas, o cretinismo místico de indivíduos que parece terem vindo ao mundo para servirem de capachos voluntários à vaidade alheia. Há dois ou três dias um impreciso número destes seres pôs-se a correr à desfilada não sei se só se pelo país, se também pela estranja. Perguntados, disseram que tinham corrido por junto o equivalente a não sei quantas maratonas a não sei quantos campos de futebol colados uns aos outros. Enfim, distâncias homéricas.

Qual a finalidade desta correria desatada? Segundo os pícaros, a finalidade da correria era incentivar a mística em torno da Selecção Nacional. Não se via, desde que uns maduros resolveram que o país devia ser todo enfeitado de bandeiras nacionais, manobra tão bizarra.

Na Idade Média este recurso a "forças obscuras" seria considerado bruxaria.

Felizmente a Idade Média vai longe. Nós é que parece termos ficado para trás.

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