segunda-feira, 21 de junho de 2010

O VATICANO E SARAMAGO


Ninguém esperava que no Vaticano se dessem saltos de alegria pela morte de Saramago. Ao fim e ao cabo os cavalheiros acreditam na Eternidade e em Deus. Acreditam que Deus é infinitamente bom e que assim sendo, o pobre Saramago, quer queira quer não, lá vai ter que ocupar o seu lugar nas celestes pradarias. Esperemos que bem sentado e com boa luz para ler os periódicos que lhe levem novidades cá do vale de lágrimas em que andamos.

Efectivamente o Vaticano não saltou de alegria, não vimos subirem e descerem as saias das Eminências.

O que verteu, foi ódio, o ódio que quase sempre oferece aos que não partilham do espírito do rebanho, aos que entendem que a salvação ou se faz neste mundo ou nunca se fará.

O cavalheiro que escreve um obituário no Osservatore Romano, porta voz da Santa Sé, acusa Saramago de ter tido a mente "sempre ocupada" por "um materialismo libertário (...) que cada vez mais se radicalizava à medida que ia avançando (Saramago) em anos".

O pobre peniculário nem se deu conta do elogio que fez ao Escritor. Porque radicalizar-se é exigir que os ideais que se transportam ganhem raízes. Exigir que as fomes e sedes (de Justiça e não só) de que falam os Evangelhos, sejam satisfeitas e não iludidas. Que "deixai vir a mim as criancinhas" é assumir a defesa dos fracos, dos desprotegidos, e não outra coisa. Etc.

Nem sempre estive de acordo com certas formulações de Saramago, inclusive no que refere a temáticas religiosas. Penso que certos ímpetos seriam melhor aplicados em causas mais urgentes. Mas isso é opinião minha, não tem valor.

Tal como penso que as vaticanas fúrias, bem vistas as coisas, podiam ser melhor aplicadas noutros sítios. Lá por casa, por exemplo.

E enquanto não se resolvem, Eminências, deixem em paz quem não acredita. Deus, ou o Supremo Arquitecto, ou lá quem é, se existir, fará as contas com os réprobos. A Inquisição não resolveu nada. Nem sob a antiga, nem sob novas formas.

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