terça-feira, 15 de junho de 2010

RES PUDICA


Faz cem anos e é um ver se te avias a comemorá-los. Esta senhora que aí está, de perfil, é a tal República. Penso que ficava melhor chamar-lhe, Res Pudica uma vez que tem os seios impantes e maternais de Grande Mãe devidamente aconchegados no seu drapejamento de bronze. Se calhar foi por isso que o leite da bondade republicana nunca chegou ao povo, nunca matou fomes. Pudica também porque da cintura para baixo não mostra nada, nem o avental com aqueles esquadros, compassos e coisas dessas, símbolos de quem dela se apoderou.
Também no que refere as comemorações.

Esta República que uns tantos comemoram à tripa forra e à barba longa do novo Estado Novo, não é a dos homens humildes e pobres que nos primeiros dias depois do 5 de Outubro de 1910 fizeram guarda firme às portas dos Bancos e quejandas instituições da Burguesia.

Esses ficaram para trás, esses que a Reública de dezasseis anos tratou a tiro e a chanfalho nas ruas, porque, dizia um dos seus mais altos próceres, "A questão social é uma questão de polícia". E para isso fundaram eles a Guarda Nacional Republicana. Com carícias mais requintadas ainda trataria a república fascista os trabalhadores.
Ainda a propósito de comemorações e dos "seios impantes" de que se falou ali acima... Um escultor situacionista, João Cutileiro, "considera", segundo um jornal "que é a altura de fazer um novo busto alegórico da República". A quem o dizes: são cem anos, para uns tantos, a mamar.

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