quarta-feira, 23 de junho de 2010

MISÉRIA DO JORNALISMO


O artigo de Baptista-Bastos hoje (23 de Junho) no "Diário de Notícias", parte criticamente do editorial de um outro jornal (cujo título não menciona) onde um feliz editorialista proclama que Saramago "Esteve, muitas vezes, do lado errado da História". Baptista-Bastos dá forte e feio, mas com a elegância que lhe é habitual, no javardo.

Esta ideia de que alguém está do lado certo ou errado da História é própria de pesporrente desses que habitam o caldo sujo, submisso e cobardolas que é, em boa parte, o panorama do jornalismo em Portugal e praticamente em toda a Europa. Os media são, salvo raras excepções, um mero prolongamento do capital dominante. Livre empresa não é o mesmo que imprensa livre.

Seria curioso saber o que é que a insigne cavalgadura que pariu a frase entende por "lado certo" da História. Aquele em que se "está", ou aqueloutro para que se "muda" a fim de não perder o comboio, de abarbatar o tacho, de enfiar o colarinho na comenda? Estava errado Cristo? Errados os fuzilados durante a resistência? Estavam certos os fariseus? Certos estariam os nazis? Certos os pides? Certos os inquisidores?

Só um imbecil se pode substituir à própria História taxando de certo ou errado o lugar de quem nela entra. Só um triste calhorda.

"Certo, "errado", são juizos pobremente valorativos, elocubrações vazias a que se entregam, ainda zonzos, os vencedores ou os que por vencedores se tomam.

Assim, com o que disse ou fez, Saramago terá estado muitas vezes do lado errado. O engenheiro Mário Lino terá estado errado quando teve ideais, e certo quando se mudou para abichar o tacho. O Sócrates que a democracia grega assassinou, estava decerto errado, a prova é que o mataram. O Sócrates português e engenheiro (dizque), deve estar no lugar certo da História. A prova é que quem mata é ele. O País. De fomes várias.

Ah, miséria do jornalismo!...

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